Fabio nasceu a 14 de janeiro de 1986 nos «quartieri spagnoli», de Nápoles, zona histórica e degradada da cidade. Era um miúdo a chegar à formação do Génova, a atingir o primeiro patamar do seu sonho de se tornar jogador de futebol, quando, aos 14 anos, se viu paralisado e confinado a uma cama. Sofria da síndrome de Guillain-Barré, uma doença que ataca o sistema nervoso e se manifesta, entre outros sintomas, por paralisia progressiva.

«Uma manhã levantei-me paralisado da cabeça aos pés. Só percebi a gravidade da situação quando acordei numa cama de hospital», contou agora Pisacane ao site do jornalista italiano Gianluca di Marzio.

O pai, Andrea, conta como a família viveu o drama de Fabio. «Consultámos cinco ou seis especialistas, nenhum sabia dizer o que tinha o miúdo, porque naquela altura o Fabio era ainda um miúdo», diz Andrea, dizendo que quando chegou o diagnóstico chegou também a dúvida sobre o futuro de Fabio: «O médico disse-me que talvez ele não pudesse voltar a jogar, mas naquele momento era a última coisa que me interessava.»

Fabio chegou a entrar em coma, passou três meses hospitalizado. Mas superou a doença, passou por um período de recuperação e conseguiu voltar a jogar futebol. Quatro anos mais tarde chegava à equipa principal do Génova e no fim da época 2004/05 estreou-se na Serie B, um jovem defesa a dar os primeiros passos.

Seguiram-se empréstimos ao Ravenna, Cremonese e Lanciano, depois o Lumezzane, que comprou o seu passe a meias com o Chievo, sempre no terceiro escalão do futebol italiano.

Voltou à Serie B em 2009/2010, jogando por empréstimo no Ancona, que acabaria por abrir falência nessa época. Regressou ao Lumezzane e foi lá que em 2011 a vida o coloca perante novo teste. Pisacane recebe um telefonema de Giorgio Buffone, seu antigo diretor no Ravenna, a propor-lhe 50 mil euros a troco de entregar o jogo entre as duas equipas.

«Foi meu diretor no Ravenna. Quatro ou cinco anos depois reencontrei-o como adversário, jogava no Lumezzane. Telefonou-me a 14 de abril, a três dias do jogo com o Ravenna. Ligou-me, eu nunca tinha falado com ele ao telefone, e propôs-me 50 mil euros para combinar o jogo», contou Fabio em 2014 numa reportagem da RAI feita precisamente no bairro onde nasceu.

Nessa reportagem, Fabio olha em volta e observa: «A qualquer um de nós aqui dariam jeito os 50 mil euros.» Depois continua: «As pessoas pensam que se és dos bairros vais de certeza cair em tentação, deixares-te corromper. Mas aqui pouca gente se vende.».