Escândalo em ‘Pesadelo na Cozinha’

Afinal o 112 foi chamado porque “um fulano da produção se sentiu mal e não por uma crise de hipoglicémia do proprietário. Em entrevista exclusiva ao site FLASH!, o ‘chef’ David Coelho, o ainda dono do restaurante Hot Spot, que vai fechar, conta como o programa é conduzido e “manipulado”.

Conte-nos o que se passou aqui de especial nas gravações de ‘Pesadelo na Cozinha’?
Aquilo é uma novela, mas sem texto, porque estamos a fazer um programa em que somos manipulados. O ‘chef’ vai à procura do mal. Ele, melhor do que ninguém, sabe onde estão os males nos restaurantes. O Ljubomir conhece os podres todos de qualquer cozinha e depois de os ver mete-nos uma ratoeira para cairmos e para nos poder chamar à atenção.

Mas o ‘chef’ chegou aqui e viu o quê?
Ele esteve aqui pouco tempo. Veio gravar, esteve aqui duas ou três horas e foi-se embora. E veio sempre na altura crítica, na hora dos jantares, quando estava aqui muita gente.

Como é que o David decidiu concorrer?
Eu não concorri. Eles vieram-me convidar. No verão passado, umas pessoas da produção do programa vieram cá duas ou três vezes. Conheceram o meu restaurante e convidaram-me. No verão isto também era outra coisa, estava sempre cheio. Estava aqui sozinho e falava um pouco alto. É de mim falar assim muito alto. Sei que sou uma pessoa que chama à atenção e talvez fosse por isso que se lembraram de me convidar.

O que é que lhe prometeram?
Não prometeram nada. Eu por acaso conhecia o formato do programa do Gordon Ramsay na televisão, vi vários episódios e já tinha noção do que era.

Acha a versão portuguesa igual?
Nada, a versão portuguesa entrou mais no campo da crítica do que no da ajuda. Entraram mais pela crítica. Eu não tive o restaurante dois ou três dias fechado para as limpezas, não tinha as coisas tão organizadas, não tinha as arcas organizadas, como é normal. Estive dois dias antes do programa sem cá vir e basta isso para desorganizar uma casa.

Mas o que se vai ver domingo na televisão? O David e o ‘chef’ a gritaram um com o outro. O David a gritar e a falar alto com o seu pessoal?
Isto de verão todas as casas gritam. Isto de verão qualquer casa que esteja a trabalhar tem que gritar. Eu sou ‘chef’ de cozinha, a pressão é normal na cozinha.

O próprio Ljubomir também grita e diz asneiras.
Isso é normal com profissionais. A gente para prestar um bom serviço precisa de pressão. O pessoal da cozinha tem que pressionar o da sala e do sala o da cozinha. Só assim é que o serviço funciona.

É verdade que houve muita pressão e muitos gritos, algum desentendimento entre vocês, o que é que se passou para o David se ter sentido mal?
Eu senti-me mal… Eu sou diabético, insulinodependente. Tive uma hipoglicemia, qualquer diabético que saía da rotina pode ter este tipo de crises.

O que é que lhe aconteceu para espoletar esse tipo de crise?
O diabético devia ter uma rotina diária, comer todos os dias à mesma hora, e a gente, com este trabalho na restauração, nem sempre consegue ter essa rotina diária. Só o facto de o programa ter vindo desestabilizou-me essa rotina toda. O metabolismo do corpo trabalha mais, nós estamos a pensar e criou-me ansiedade. As hipoglicemias acontecem por coisas que não estamos à espera. Eu sabia que eles vinham aí, mas a agitação mexeu comigo.

Sentiu-se mesmo mal e caiu para o lado?
Não, não caí nada para o lado. Fiquei um bocadinho transtornado, mas foi só isso. Saí da cozinha e fui tratar de mim. Isso foi à tarde. Tive uma hipoglicemia, mas a minha mãe estava aí e deu-me um copo de água com açúcar. Quase ninguém se apercebeu. Isso são eles a fazer mais filmes do que aquilo que é a verdade.

Mas chamaram, ou não, o 112?
É pá, isso não foi para mim, foi outro filme. O 112 não foi coisa para mim. Foi para um tipo da manutenção deles que caiu aqui fora. Não foi comigo. Foi à cinco da manhã e com um fulano da produção que se aleijou.

Conte-nos a história do peixe e do marisco que Ljubomir disse que estavam podres.
Isso do peixe podre não foi verdade.

Não?
Não, não havia peixe podre nenhum. Ele diz que cheirava mal, mas era um peixe que eu tinha dito à Lúcia, a cozinheira, três dias antes, para o deitar fora e ela não deitou. Eu disse bem alto, e o Ljubomir ouviu, que o peixe era para mandar para o lixo e depois foi aquele disparate todo. Estavam ali dois ou três peixes que cheiravam mal. Foi só isso.

Só que o ‘chef’ perguntou à Lúcia se ela era capaz de comer aquele peixe e ela disse que não.
Pois foi, mas nunca aconteceu servir-se aqui um peixe podre a um cliente. Estou aqui há seis anos e nunca tive uma reclamação. Nunca tive chatices com a ASAE. Trabalho há 20 anos, e nunca mandei ninguém para o hospital. Só um inconsciente é que faz isso. Um cozinheiro que mande uma coisa estragada para a sala não é cozinheiro.

Já disse que isto foi uma novela montada com várias personagens…
Só não tínhamos era o texto. O texto era livre e também falei pouco porque estive uns cinco dias em dormir. Andei aí uns dias antes nos copos, com uns amigos, e quase não me deitei.

O que é que achou do ‘chef’ Ljubomir?
O ‘chef’…

Diga a verdade, não tenha medo. Se não gostou, não gostou.
Gostei, gostei. Ele trabalha da mesma maneira que eu.

Como é que é essa maneira?
Com a pressão e a dizer as coisas na cara das pessoas.

O David, além de gritar muito, também diz muitas asneiras como o ‘chef’?
Digo. Claro que digo, os clientes não gostam. Eles ouvem tudo, mas isto são coisas que vamos emendando com o tempo.

Acha que isso ainda tem emenda?
Acho que tem. É pá, é a minha formação. Eu tinha 16 anos e andava no paquete Funchal e eu trabalhava lá com pessoas mais velhas, quase todos ‘malta’ do norte do país, e essa foi a minha formação: com muitas asneiras e com muitos ‘vais para aqui’ e ‘vais para acolá’. Antigamente também não se falava, ralhava-se.

O David começou nos cruzeiros, esteve em hotéis, conte-nos um pouco do seu percurso.
Estive em Pedras D’el Rey, no MH em Peniche. Fui chefe de cozinha na Pousada de São Sebastião, do Grupo Pestana, na ilha Terceira, nos Açores, e depois, há seis anos, decidi vir trabalhar por minha conta. Mas digo-lhe já que não foi boa ideia: isto é muito cansativo, estou aqui sozinho e para uma pessoa só é demais. E não se consegue ter um bom serviço porque se está sozinho.

E quando é que a diabetes apareceu?
Apareceu aos 11 anos. A diabetes é uma coisa que tenho sempre supercontrolada. A pressão é que não ajuda.

Acha que o ‘chef’ precisa de imprimir tanta pressão na cozinha para animar o programa?
Sim, aquilo faz parte. É para dar canal e ele não está a dizer mentira nenhuma. Ele, mais do que ninguém, sabe onde ir encontrar as coisas que podem estar mal.

Mas das gravações que vamos ver do ‘Hot Spot’ o que é verdade e que é mentira?
É tudo verdade e é tudo mentira. Não me estou a defender. Sim, isto estava um pouco desarrumado, a limpeza não estava muito mal. Foi a questão de isto ter sido gravado em meados de setembro e de termos ali uma arca ou duas com umas caixas abertas, com uns panados, com um balde ou dois de caracóis congelados, que ainda podíamos servir aos clientes. O ‘chef’ diz que encontrou um pedaço de plástico nos caracóis… pois não sei se foram eles que lá meteram o plástico, ou se fui eu que lá o deixei, não me lembro.

E da recuperação que lhe fizeram da casa o que é que sobrou daqui que ficou bom? Quais foram as boas ideias que o ‘chef’ lhe deu?
Pouco. Meteram-me ali um motor de ventilação na cozinha, ofereceram-me um frigorífico e uma máquina de lavar loiça, deram uma pintadela. Acho que o meu foi dos restaurantes onde o ‘chef’ menos mexeu.

O que é que Ljubomir lhe sugeriu de novo na ementa que já aplicou?
Nada. Ainda não comecei a trabalhar. Depois da renovação fui para a feira de gastronomia de Santarém e só abri no passado fim de semana. É pá, não passa aqui ninguém. Isto não tem movimento. É no verão e, mesmo assim, só aos fins de semana. As letras desta ementa estão muito pequenas, mas vou fazer tudo como o ‘chef’ aconselhou. Não tenho nada ‘gourmet’, com muita pena, porque essas coisas é que eu gosto de fazer, mas ele não me aconselhou a pôr na ementa. A malta aqui não come ‘gourmet’, até pedem uma dose para dois, não dão valor. Os clientes gastam 12, 15 euros e já acham caro.

E dá para aguentar?
Dá, dá, mas só até ao fim de agosto. Já está decidido. Vou fechar este restaurante. Até já tenho para onde ir. Tenho uma proposta para abrir outro negócio com um amigo, em sociedade, em Torres Vedras, na zona das arcadas. Sei que lá se trabalha bem.

Este espaço é seu?
Não, é arrendado, mas vou deixá-lo. Ganho dinheiro no verão e depois estou oito meses a perdê-lo. Gasto três mil euros por mês para manter a casa aberta. Seis anos aqui a trabalhar já deu para ver que não dá. Não saio esgotado porque aprendi imenso com esta experiência. Isto foi uma aventura.

 

Fonte: Flash.pt

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